O que é a verdade para você?

Posted by Solipsismo Subversivo | Posted in | Posted on quarta-feira, julho 20, 2011

Há cinco figuras abaixo. Qual você acha que é a diferente de todas as outras?

 
    O cérebro humano foi condicionado desde a infância a encontrar uma resposta certa para cada questão quando, na verdade, apenas questões físicas ou matemáticas oferecem esta opção, uma vez que tudo no mundo é relativo e está condicionado ao ponto de vista de quem vê, analisa ou assimila um objeto, uma cena, uma situação.
    Não importa, portanto, qual das figuras mostradas você apontou como diferente. Se B é a única que só tem linhas retas, a A é a única sem pontos de ruptura, enquanto a C é a única assimétrica, somente a D possui uma linha curva e uma reta e a E é a única que parece a projeção de um triângulo não euclidiano sobre um espaço euclidiano.
    O cérebro não aceita a ambigüidade da vida por causa do condicionamento escolar, que nos proporciona mais de dois mil testes com respostas únicas durante seu curso, ensinando-nos, de fato, a nos inclinarmos sempre para uma única escolha, uma única verdade, uma única opção. Ora, se nos habituamos a uma única escolha, cada vez menos nosso cérebro saberá enxergar várias saídas para as situações difíceis que são comuns no nosso cotidiano.
    O fato é que, uma vez que o ser humano comece a refletir melhor sobre cada coisa, ele obterá cada vez mais possibilidades e recondicionará o seu cérebro a buscar mais e mais alternativas, o que então facilitará outros processos como a comunicação e a realização pessoal. Afinal, se você enxergar apenas uma forma de conquistar seus objetivos, acaba saindo derrotado no caso de a sua perspectiva se frustrar.
    Quanto melhor você se comunica com o mundo, mais chances de estabelecer novas relações de amizade e companheirismo, o que, por sua vez, aumenta o número de oportunidades e meios para a realização de seus projetos. A Programação Neurolinguistica (PNL) tem por pressuposto que as pessoas são nossos maiores recursos. Sendo isto verdade, chega-se à conclusão do quão vantajoso é ampliar o círculo de amizades.
    Basear-se em apenas uma certeza nos conduz à limitação indesejável da mente, que cria facilmente preconceitos para se mover contra quase  tudo. Se você estiver condicionado a ter o padrão europeu de constituição física como única opção para a sua vida afetiva, facilmente seu cérebro entenderá que você deve rejeitar orientais, latinos, africanos, índios etc. E disto surgirá em você o preconceito racial.
    Se você acreditar que o dinheiro traz felicidade, provavelmente se sentirá triste e derrotado toda vez que o dinheiro faltar. Se acreditar que a banana é a opção certa para suprir a falta de potássio no organismo, se privará do benefício incrivelmente maior que o feijão preto traz neste sentido. Estudos mostram que praticamente todas as convenções sociais, até mesmo algumas leis são baseadas na verdade única de alguém.
    Outro pressuposto é o de que “Contra crenças não há fatos”. Notadamente, este pressuposto explica o tipo de funcionamento cerebral nosso, que se recusa a ver, ouvir ou experienciar qualquer situação flagrante que seja contrária à crença arraigada. Não é à toa que Siddhartha Gautama, o Buddha ( ou simplesmente Buda), descobriu que a grande causa do sofrimento humano é o apego.
    Não nos preocupemos tanto com o apego às coisas pois as coisas não sobrevivem à morte; mas cuidemos, isto sim, do apego emocional às crenças e valores que criamos ou aceitamos, vindas de outrem, como nossas, pois estas calçam nossa estrutura psicológica ditando aquilo que seremos e sofreremos em vida.
    No grande balaio de ilusões que a vida é, seria mesmo uma imprudência pensar que alguém aqui neste mundo seja detentor de uma verdade qualquer. Mesmo que isto cause indignação na maioria, a verdade não nos pertence, embora devamos, sim, buscá-la incessantemente. Esta talvez seja a grande dicotomia do ser humano em curso evolutivo na terra: viver entre as verdades pessoais e as perenes que são divinas.
    E antes de entrarmos no aspecto religioso, há quem dirá: imagine! Há verdades incontestáveis no mundo que ninguém poderá negar. A de Newton, por exemplo, em que ele afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Pois bem. Até mesmo esta verdade deixou de ser tão verdade assim desde o advento da física quântica, que flagrou a existência de diversas dimensões que se entrelaçam derrubando a antiga convicção newtoniana.
    Há tantas verdades ilusórias quantas pessoas com capacidade de criá-las e nelas crer; aliás, mais que isso, pois cada pessoa pode produzir uma infinidade de verdades transitórias que se derrocarão frente a uma verdade maior. Certo mesmo é que não há nada fixo ou imutável na criação, a não ser a fonte divina de onde tudo se origina. Mas nesta, jamais vista ou compreendida, poucos querem crer.
    “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João, 8:32). A que Jesus estaria se referindo quando proferiu tais palavras? Vê-se que as religiões têm se mantido graças à fé dos homens em leis e normas que o próprio ser humano dita baseado nas vozes de mestres excelsos como Jesus, mas somente a verdade sublinhada por Jesus é capaz de nos libertar, portanto, esta ainda se oculta aos olhos da humanidade à época, necessitando de uma ousadia mais expressiva de cada um de nós para ser descoberta.
    “O mapa não é o território”, mas sua representação a partir do foco de quem o interpreta. Assim é com o ser humano. O que eu penso acerca de um assunto é diferente do que você pensa e o que nós dois pensamos é também desigual do pensamento de um terceiro e assim por diante. Eis o porquê de cada indivíduo entender os problemas do mundo com pesos e medidas próprias.
Após muito tempo de estagnação em regimes criteriosamente normatizados, o mercado de trabalho enfim requer de seus funcionários maior poder de decisão e iniciativa, preferindo alguém com mais proficiência e pro atividade. E esta última está intrinsecamente relacionada à capacidade de encontrar diversas formas eficientes de se resolver uma questão, e não apenas uma.
    Que coisa boa esta a de possuir uma mente criativa, ver a partir de diversos ângulos e tudo mais. Mas isto não nos leva a muitas certezas ao mesmo tempo? Sim! Mas isso não é ruim, pois quem olha por vários ângulos, embora encontre diversas verdades, não tente a estagnar em nenhum delas, o que é vantajoso para quem quer assegurar uma vida mais plena e motivadora.
    Por outro lado, “não se brinca com religião”, e contestar as verdades ali estabelecidas pode acarretar problemas espirituais. Será? Concordo que religião deve ser levada a sério, pois é dever do homem e da mulher respeitar toda e qualquer iniciativa de se instituir o bem e a ascensão do ser humano. Porém, respeitar não significa submeter às cegas. Uma coisa é a entrega própria aos espíritos livres, outra é a submissão a leis que não se pode compreender. Quem assim o faz está sujeito a “servir a dois senhores”, estacionando numa dualidade espiritualmente infértil.
    Portanto, pensar a este respeito pode causar impasse em quem deseja entender a questão da verdade. Mas se tomarmos determinado caminho na condução do pensamento, saberemos distinguir com flexibilidade a utilização de cada coisa conforme suas qualidades. Poderemos, por opção, usar a verdade como objetivo maior da busca filosófica ou espiritual e a multiplicidade das possibilidades como veículo de flexibilização e expansão do potencial criativo, e isto nos daria uma aplicação favorável dos talentos humanos naturais.
    Veremos, outrossim, que a pluralidade de opções é da natureza humana. Quando observamos as crianças numa sala de aula, percebemos que há muito mais respostas diferentes e criativas para uma mesma pergunta do que quando repetimos a mesma pergunta para uma sala de alunos universitários, que já possuem sua formação emocional concluída, portanto, já carregam seu próprio código de crenças e valores. “Mas Jesus, Chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim as criancinhas, e não os impeçais, porque delas é o reino dos céus” (Lucas, 18:16).
    Mas, sem pensar em Jesus, uns diriam que isto se dá porque as crianças não aprenderam a resposta certa e os universitários já, o que é aceitável dentro do modelo educacional que nos rege. Mas quem disse que este não foi elaborado exatamente para tolher nossa percepção universal de mundo, afunilando-o para o foco que o sistema educacional desejar que olhemos? Entre a verdade do governo e a dos mestres, fiquemos apenas na busca, exercendo cada vez mais nosso direito de pensar e questionar seja o que for.
 

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